Festejos juninos em tempos de pandemia: uma observação netnográfica do canal Youtube #São João de Campina em Casa
June festivities in times of pandemic: a netnographic observation of the Youtube channel #São João de Campina at Home
Celebraciones de junio en tiempos de pandemia: una observación netnográfica del canal de YouTube #São João de Campina en Casa
e-ISSN: 1605 -4806
VOL 26 N° 115 septiembre - diciembre 2022 Monográfico pp. 121-133
Recibido12-07-2022 Aprobado 14-12-2022
Juliana Hermenegildo
Brasil
Universidade Federal do Ceará
jujuhermenegildo@gmail.com
Maria Érica de Oliveira-Lima
Brasil
Universidade Federal do Ceará
merical@uol.com
Resumo
O presente artigo tem o objetivo de abordar como os festejos juninos foram vivenciados durante o isolamento social em decorrência da pandemia de COVID-19. Nossa análise parte de uma observação dos eventos de lives ocorridos dentro da plataforma Youtube, no canal São João de Campina em Casa. Em uma perspectiva dentro da Teoria da Folkcomunicação buscamos compreender as aproximações identitárias e ideias de pertencimento dentro do chat desses eventos, e a ligação entre os indivíduos. Utilizando de métodos da Netnografia, observamos os fluxos comunicacionais dentro do evento online e suas similaridades na constituição de comunidades virtuais, aproximadas por múltiplos fatores inerentes do espaço/tempo físico e virtual.
Palavras chave: Festejos Juninos; Folkcomunicação; Cultura Popular; Lives.
Abstract
This article aims to address how the June festivities were experienced during social isolation as a result of the COVID-19 pandemic. Our analysis starts from an observation of the live events that took place within the Youtube platform, on the São João de Campina em Casa channel. From a perspective within the Theory of Folkcommunication, we seek to understand the identity approaches and ideas of belonging within the chat of these events, in a connection between individuals. Using Netnography methods, we observed the communicational flows within the online event and their similarities in the constitution of virtual communities brought together by multiple factors inherent to physical and virtual space/time.
Keywords: June Festivities; Folkcommunication; Popular Culture; Lives
Resumen
Este artículo tiene como objetivo abordar cómo se vivieron las fiestas de junio durante el aislamiento social a raíz de la pandemia del COVID-19. Nuestro análisis parte de una observación de los eventos en vivo que ocurrieron dentro de la plataforma Youtube, en el canal São João de Campina em Casa. Desde una perspectiva dentro de la Teoría de la Folkcomunicación, buscamos comprender los planteamientos identitarios y las ideas de pertenencia dentro del chat de estos eventos, en una conexión entre individuos. Utilizando métodos de Netnografía, observamos los flujos comunicacionales dentro del evento en línea y sus similitudes en la constitución de comunidades virtuales reunidas por múltiples factores inherentes al espacio/tiempo físico y virtual.
Palabras clave: Fiestas de Junio; Folkcomunicación; Cultura Popular; Lives
Notas introdutórias
No inicio do ano de 2020 o mundo assistiu espantado um vírus se espalhar de forma rápida e contínua. A COVID-19 é uma doença infecciosa causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, ocasionando febre, cansaço e tosse seca. O alto grau de transmissão, a insuficiência de leitos hospitalares e o desconhecimento de tratamentos levaram países a fechar fronteiras e decretar estado de lockdown. No Brasil cada estado adotou politicas de controle e circulação de pessoas. Empresas definiram trabalhos remotos, as escolas aulas on-line e grandes eventos culturais foram cancelados.
Entre os meses de março e abril de 2020 – períodos de decretos de lockdown em vários estados brasileiros - os grupos juninos do Nordeste brasileiro avançavam com o desenvolvimento de suas temáticas para o São João 2020. Esta manifestação cultural foi uma das mais afetadas no Brasil, pela pandemia global. Cidades como Caruaru/PE, Campina Grande/PB, e Mossoró/RN com seus já esperados festejos juninos tiveram suas festas canceladas, afetando de forma imensurável a economia e cultura local.
Nesse cenário, artistas, mestres da cultura, cantores, quadrilhas juninas, produtores culturais e demais atores que fazem parte de toda a cadeia econômica e cultural reinventaram-se para manter viva a tradição junina. E o uso das plataformas digitais foi essencial para esse processo.
Este artigo propõe uma observação sobre as manifestações culturais juninas mediadas nas plataformas sociotécnicas, onde “a interconexão de pessoas e objetos é designada em um coletivo para gerir uma produção e disseminação de conhecimento e vínculos sociais”, Latour (1994). O objetivo é demonstrar como os festejos juninos foram vivenciados dentro dos espaços virtuais das redes sociotécnicas, demonstrando que o lugar virtual produz e reproduz sociabilidades e reconhecimentos identitários e comunitários entre os indivíduos, indiferente das barreiras geográficas e sanitárias que foram estabelecidas pela pandemia global.
Logo, dentro de uma abordagem utilizando métodos da netnografia proposta por Kozinets (2014), “entendendo as relações que se estabelecem no espaço online como comunidades virtuais”, onde as pessoas buscam e se conectam por meio desse arsenal de conectividade mediada por computadores, celulares, e tabletes, como também esses “lugares” e atividades relacionadas tornaram-se lugar-comum.
Deste modo apresentaremos como os festejos juninos foram experienciados no espaço virtual durante a pandemia de COVID-19, no ano de 2020, contribuindo para manutenção desse movimento cultural, projetando a festa junina de forma local, regional e global. Nossa observação delimita-se às lives desenvolvidos pela prefeitura da cidade de Campina Grande/PB em conjunto com patrocinadores, durante o mês de junho de 2020, moderada pela hastag #OSãoJoãodeCampinaGrandeemCasa, e transmitidas ao vivo, e posteriormente disponibilizadas pela plataforma Youtube no canal O São João de Campina em Casa.
As festas populares e as redes sociotécnicas
As festas populares em todo o contexto que se apresentam possuem processos complexos de interações e significados comunicacionais, produzindo mensagens e alterando seus formatos constantemente. Para Martin-Barbero (1987) “as festas produzem uma dinâmica de resistência popular, assimilando as ofertas disponíveis, reciclando essas manifestações para sobreviver física e culturalmente”.
Nesse contexto as manifestações culturais populares foram inseridas nos meios de comunicação como processos de valor conteudístico preenchendo espaços, e movendo economicamente esses veículos. Para Marques de Melo (2008), “cria-se uma teia complexa de relações de interesses, da qual participam também o Estado e o aparato político, responsáveis pela normatização do uso daqueles espaços públicos onde as festas se realizam”. Do ponto de vista das manifestações culturais brasileiras a festa junina no Nordeste brasileiro possui uma abrangência de caráter identitário, cultural e econômico, movimentando turismo, comunidades e instituições.
No cenário pandêmico durante o ano de 2020 as dinâmicas de produção, realização e recepção dos múltiplos festejos necessitaram se adequar as restrições e realidade do momento. No Nordeste as instituições públicas e privadas, artistas, quadrilhas juninas, músicos, dentre outros, necessitavam de meios para manter as manifestações populares vivas durante a pandemia. O uso dos dispositivos e redes sociotécnicas foram fundamentais para o acontecimento dessas celebrações.
A utilização do espaço virtual permitiu uma nova configuração do espaço/tempo presencial em espaços públicos e/ou privados destes festejos, alterando para o espaço familiar e doméstico, mediados pelas plataformas digitais com sua estrutura técnica, conexões, compartilhamentos, interação e dinâmicas sociais.
Convém lembrarmos as primeiras observações sobre o espaço virtual, onde Levy (1999) postulou sobre o ciberespaço e a insurgência de um meio de comunicação de interconexão global por intermédio de computadores. Para Lévy (1999) “este lugar virtual não estaria ligado apenas a parte física e estrutural da comunicação digital”, mas todo um universo de informações, assim como os indivíduos que navegam e alimentam esse espaço.
Nessa abrangência de interconexões e novos modelos comunicativos Lévy (1999) sugere uma reinvenção da cultura, a Cibercultura. Especificada como “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modo de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (LÉVY: p.17). Estes processos redefiniram as experiências dos indivíduos, as relações de poder, produção e difusão de informações.
Essas implicações desenhavam a internet como elemento que facilitaria as comunicações, diminuiria os espaços demográficos e permitiria uma democratização dos saberes e informações, onde qualquer um poderia ser um produtor e receptor de conteúdo.
A Web 3.0 definida pelos seus ambientes virtuais possibilitam interações e relações no ciberespaço, nas quais os indivíduos/usuários não ocupam o mesmo espaço. Essas experiências alteram as percepções de tempo e espaço com seus aplicativos, redes sociais e toda velocidade e interatividade e fluxos comunicacionais.
Pode-se observar que a evolução da internet, principalmente no Brasil, trouxe uma multiplicidade de fenômenos, usos e possibilidades. Em termos de números, segundo dados do Comitê Gestor da Internet do Brasil, em pesquisa divulgada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação [CETIC.br, 2021] houve um aumento de 12% de domicílios com acesso à rede em 2020, comparado ao ano de 2019, totalizando 152 milhões de usuários de internet com idade de 10 ou mais anos, apenas em 2020. Este aumento pode ser visto como um reflexo natural do momento vivido pela sociedade brasileira e global, onde o espaço virtual tornou-se lugar de vivências sociais e culturais.
De acordo com dados divulgados pela página Plugcitários (@plugcitarios) em 2021, o Brasil figura em segundo lugar no ranking de países que mais gastam tempo com a internet, conforme figura abaixo:
Figura 1. Ranking países online 2021
Fonte: @plugcitários
Na figura 1 temos os seguintes dados: nas duas primeiras colunas, em roxo escuro, equivalem ao tempo gasto online na internet, e a duas colunas seguintes correspondem ao tempo gasto nas redes sociotécnicas. Percebemos uma usabilidade crescente e constante dessas plataformas digitais.
No Brasil três plataformas se destacam na quantidade de usuários: Facebook (130 milhões), Youtube (127 milhões) e Whatsapp (120 milhões de usuários). Cada uma com suas particularidades essas redes sociotécnicas produzem sociabilidades, interações e dinâmicas diversas. E foram dentro desses espaços que durante a pandemia o movimento cultural se reinventou, usando de diversos recursos para proporcionar entretenimento aos usuários conectados. O fenômeno cultural das Lives.
As lives foram eventos desenvolvidos, por artistas e empresas privadas, de modo remoto utilizando as plataformas digitais, como Youtube, Instagram e Facebook. Esses eventos surgiram em abril de 2020 como elemento de “aproximação” para as pessoas que estavam isoladas em suas residências, e eram divulgados amplamente nessas redes. Os artistas realizavam transmissão de shows de suas residências ou outros locais, muitas vezes patrocinados por empresas de diferentes segmentos.
No Brasil as lives surgiram como um fenômeno cultural durante o isolamento ocasionado pela pandemia, ocasionando o recorde de um evento desse porte em maio de 2020, a cantora Marilia Mendonça alcançou a marca de 3,3 milhões de usuários simultaneamente em na transmissão na plataforma Youtube, sendo a live mais vista até o momento.
Em nossa análise fizemos uma busca na plataforma Google Trends com o intuito de entendermos o alcance das lives. A ferramenta Trends mostra, de acordo com parâmetros de busca, o que mais foi pesquisado na internet dentro de um período. Nosso recorte de palavra foi (#Live), tempo (os últimos 5 anos), demográfico (Brasil), arte e entretenimento, plataforma Youtube.
Figura 2. Google Trends #Live
Fonte: https://trends.google.com.br/trends/explore
Na figura 2 apresentamos um gráfico, gerado pela própria plataforma Google Trends, confirmamos o ápice da procura por “live”, dentro do Youtube nos meses iniciais da pandemia de COVID-19, ocasionando o pico de busca no mês de maio no mesmo ano.
O Youtube é a maior plataforma de compartilhamento de vídeos, as interações dentro da plataforma podem decorrer de diferentes aspectos, por visualizações de modo simultâneo ou posteriormente, por curtidas e também compartilhamentos pelos perfis/usuários da rede. Seguindo esse raciocínio Malini (2021) entende perfil/conta/usuário como “ponto de vista”, tencionando esse perfil não somente como nó da rede social digital, seguindo o direcionamento da engenharia, mas como pessoa, ainda que o papel de enunciador e participante das ações em rede seja desempenhado por um robô. Compreende-se o perfil enquanto sujeito enunciador no interior dessa estrutura, as dinâmicas promovidas em rede criam o sujeito em processos de associações e reconhecimentos. São esses perfis que criam as conexões no ciberespaço, ao realizar busca em plataformas, comentar em postagens, seguir outros perfis ou compartilhar conteúdos.
Logo nos questionamos como as festividades e manifestações culturais se desenvolvem dentro do espaço da Web 3.0. Diferente das apresentações de artistas em suas lives, manifestações culturais como os festejos juninos necessitam de uma cadeia de fatores para sua reprodutibilidade e acontecimento. E como os indivíduos associam-se, identificam-se e comportam-se dentro desses espaços comunitários online? Como a festa é racionalizada dentro da multiplicidade das redes sociotécnicas?
São João em tempos de pandemia: uma observação netnográfica
No dia 23 de junho de 2020, a meia-noite, do alto de uma cobertura na cidade de Campina Grande/PB, a cantora Elba Ramalho realizava uma transmissão ao vivo pela plataforma digital Instagram. Ao som de sua banda e fogos de artifícios, a cantora entoava os seguintes versos “olha pro seu meu amor veja como ele esta lindo, olha pra aquele balão multicor que lá no céu vai subindo”, música de Luiz Gonzaga e um dos hinos dos festejos juninos no Nordeste. Ela anunciava a chegada do dia de São João, comemorado em 24 de junho. Não havia bandeirinhas enfeitando a cidade, fogueiras nas calçadas, pessoas nas ruas, festa, aglomerações, grandes empresas patrocinando, meios de comunicação televisionando. A pandemia exigia um São João diferente.
Logo, de acordo com Benjamin (2000), “as manifestações folclóricas, como fatos culturais, existiram, existem e existirão sem o turismo, com o turismo ou apesar do turismo”. As manifestações das culturas populares caracterizam a identidade de uma região e são formadas primeiramente pelos agentes/atores que compõem e mantêm esses movimentos.
Pensando as festas populares como rituais de comunicação, com signos próprios, Marques de Melo (2008: p.79) aponta um resgate da identidade comunicacional dessas festividades, caracterizadas por processos determinados de fluxos convergentes:
As festas populares são deste modo, formas plurais de expressividade social, comunicacional e econômica. É o lugar da manifestação da culinária, músicas, danças, fogueiras, balões e todo o conjunto de significados e significantes que abrangem os festejos juninos. Em nossa abordagem classificamos os festejos juninos enquanto festa mobilizadora de relações entre grupos, mediadas pelas tecnologias, enfatizando o uso dos aparatos técnicos e espaços virtuais para a projeção e realização da festa no espaço virtual.
A cidade de Campina Grande, no estado da Paraíba, Brasil, é uma das cidades onde os festejos juninos tem uma presença marcante em sua sociedade. A cidade compete anualmente há mais de 40 anos pelo “Maior São João do Mundo” com o município de Caruaru, no estado vizinho, Pernambuco. Anualmente existem os incentivos culturais, os acordos da iniciativa privada e a sociedade em busca de manutenção, reinvenção e projeção dos festejos juninos.
No ano de 2020 a cidade de Campina Grande/PB manteve, de forma remota online, os festejos juninos de seu município e sua disputa pelo maior São João do Mundo. Com a criação de um canal denominado São João de Campina em Casa, na plataforma Youtube, a prefeitura produziu 4 lives com a participação de artistas, personalidades da cidade e pesquisadores da cultura junina. O canal (nomenclatura denominada pela própria plataforma) conta com um número de 15.200 (quinze mil e duzentos usuários inscritos), indivíduos que promovem os vídeos e criam alertas para receberem informações sempre que os moderadores produzirem conteúdo novo.
O intuito dessa observação não é apresentar ou analisar o conteúdo dessas lives, logo descreveremos de forma pontual os números que são registrados na própria plataforma Youtube sobre visualizações, duração e comentários. Para clarear a visualização organizamos esses dados da seguinte forma:
Tabela 1 Lives São João de Campina em Casa
Data Live |
Duração |
Comentários |
Visualizações |
1. SÃO JOÃO DE CAMPINA EM CASA 23/06/2020 |
6 horas e 02 minutos |
79 |
65.997 |
2. SÃO JOÃO DE CAMPINA EM CASA 24/06/2020 |
6 horas e 55 minutos |
39 |
20.007 |
3. SÃO JOÃO DE CAMPINA EM CASA 25/06/2020 |
5 horas e 4 segundos |
62 |
6.928 |
4. SÃO JOÃO DE CAMPINA EM CASA 27/06/2020 |
7 horas e 18 minutos |
49 |
28.448 |
Fonte 3: autores
Na tabela acima apresentamos datas de ocorrência dos eventos lives, duração, visualizações e comentários no chat das lives. Nos números referentes as lives disponíveis no canal São João de Campina em Casa percebemos uma progressão no acompanhamento por meio dos usuários, as duas maiores visualizações são na primeira e última live, contudo é necessário abrir um parênteses sobre o conteúdo disponibilizado. As lives dos dias 23,24 e 27 são compostas por shows de artistas regionais e locais (muitos desses cantores de forró, estilo musical atrelado aos festejos juninos). O evento do dia 25/06 que conta com 6.928 visualizações refere-se a apresentações de artistas ligados a religião católica. Outro fator é a duração do evento online, com similaridade ao tempo físico/real que a festa acontece nas noites de festividades, em uma média de 6 horas e 18 minutos.
Nosso campo de observação foi realizado em dois momentos distintos, primeiro durante a live no dia 23 de junho de 2020 denominada de “abertura do São João de Campina em Casa”, e o segundo analisando os demais vídeos no decorrer do mês de janeiro de 2022. Priorizamos a observação do primeiro dia de live e seus comentários, pelos seguintes critérios: 1) evento de abertura; 2) alcance (maior quantidade de visualizações).
Tabela 2 Comentários Chat Live 23/06/20
Perfil/usuário |
Comentário |
Andreia Azevedo |
Acompanhando de Portugal |
Andreia Azevedo |
Essa festa é linda |
Carlos Henrique |
Bora compartilhar a live meu povo #MaiorSãoJoãodoMundo |
Karen Morgana de Araújo Albuquerque |
Show da Elba é as 20hs. |
Carlos Henrique |
@AndreiaAzevedo como está Portugal? |
Cordéis Pedagógicos com o Poeta #JLimaCordelista |
Vai começar... |
Diego Pires |
Eita saudade da mulesta do #partiuPP |
Cordéis Pedagógicos com o Poeta #JLimaCordelista |
Já começou no nordeste |
Mauricio Moraes cantor |
SIMBORAAAAA!!!! |
Cordéis Pedagógicos com o Poeta #JLimaCordelista |
O mês mais abençoado |
Cordéis Pedagógicos com o Poeta #JLimaCordelista |
Temos pamonha, canjica |
Cordéis Pedagógicos com o Poeta #JLimaCordelista |
Forró bom para todo lado |
Railson de Sousa Lucena Sousa Lucena |
Belo Horizonte-MG |
Andreia Azevedo |
Acompanhando de terras lusitanas... de Portugal curtindo O Maior São João do Mundo |
Manuela Sobral |
Mais música, menos falatório, pro favor! (Emoji) |
Willian Silva |
Paraiba P |
Geovanna Alyssa |
O melhor |
Cordéis Pedagógicos com o Poeta #JLimaCordelista |
Caiu a live |
Maria Aparecida Araújo Barbosa |
Vamos!!! |
Cyro de Freitas |
Vamu lá, pessoal! Fora Corona!!! |
Geovanna Alyssa |
#Maior são joão do mundo |
Alex Pinto |
QUE SAUDADEEEEE (EMOJIS) |
Pamela Jorquera |
Oi João |
Marta Souza |
Niteroi/RJ |
Gitana Pimentel |
Não saiam daí, daqui a pouco será tudo de bom... |
Lucileide Santos |
Amo |
Railson de Sousa Lucena Sousa Lucena |
Saudades de trabalhar o ano todo na minha barraca, trabalho aliado ao divertimento. |
Andreia Azevedo |
Campina Grande é linda... |
Aletheia-Ricardo Aragão |
top |
Aureliano Cabral |
Opaaa |
Vera Daiha |
Minha terra querida!!! Amo! |
Volffraniad Pinheiro |
Já no aguardo...pra vê essa Galega massa/talentosa e linda... nosso orgulho Patoense |
Lucileide santos |
Amo |
Djaline Gama |
massa |
Danielle Pinheiro |
Emocionante |
Eraldo Gadelha |
Live com música boa e conhecimento. Muito bom mesmo, emoji |
Andreia Azevedo |
Cléa Cordeiro sabe muito... saudades dessa amiga |
Gilmar Aparecido Viana do Nascimento Nascimento |
terra do meu amigo Marcio Gutemberg |
Jozilene de Souza |
Era bom demais |
Cyro de Freitas |
adilza e Edileuza estão lá, com certeza! |
Simone Albuquerque |
Uma aula de história sobre nossos festejos juninos e nossa tradição |
Eder Feitosa |
que aula |
Ana Maria Ferreira |
São João em Campina é o maior r melhor do mundo!! Saudades... |
Gitana Pimentel |
Ás 17:15 estarei no palco cantando com muito amor para todos vocês. |
Ana Maria Ferreira |
Em outubro estaremos lá se Deus quiser!!! |
Flávio Lira |
Campina tem um São João único |
Cordéis Pedagógicos Com o poeta #JLimaCordelista |
Já começou no Nordeste/ O mês mais abençoado/ Temos pamonha, canjica,/ Forró bom pra todo lado /E aquele café junino/ Isso é bom seu menino/ Pra solteiro e pra casado. |
Ana Maria Ferreira |
Maravilha Gitana Pimentel!!! |
Vera Lucia |
sou do Sertao mas amo Campina Grande |
Giovanna Carla Motta |
Faltou pessoas como Gilberto, Liane e Marizinha Pedrosa falar do Sao João de Campina Grande pous foram os primeiros a colocarem barracas no pa |
Lucileide santos |
Boa tarde |
José Claudio de Figueiredo |
Estou emocionado vendo o testemunho das pessoas que realmente fizeram de Campina Grande o Maior São João do Mundo. |
Cordéis Pedagógicos Com o poeta #JLimaCordelista |
O cabra namorador/ Que sabe dançar forró/ Quando parte pra Campina/ Lá nunca ficará só/ Ao ver a mina triste/ Talvez na dança conquiste/ Se na lábia não der nó. |
Lucileide santos |
hein |
Fabíola Souto |
No Rio de Janeiro e morrendo de saudades ! |
Giovanna Carla Motta |
Parque do Povo e que abraçaram essa ideia do nosso saudoso Ronaldo Cunha Lima. |
Andreia Dantas |
sou de Campina Grande |
Claudia Amaral |
Arroxa campina grande |
Andrea Azevêdo |
Campina Grande é show ... |
Richelle Kehrle |
Campina Grande amada |
Cordéis Pedagógicos Com o poeta #JLimaCordelista |
Vemos quadrilhas bonitas/ Embelezando o salão/ Com os vestidos vistosos/ Trio bom no forrozão/ Esse balancê ritmado/ Com o casal entrosado/ Isso sim, É São João! #partiupp |
Fonte 4: tabela produzida pelos autores com dados coletados na plataforma Youtube em 23 de junho de 2020.
A tabela 2 nos apresenta a coleta de comentários gerados no primeiro evento live realizado no canal São João de Campina em casa no dia 23 de junho de 2020, em uma abordagem da netnografia nossa perspectiva é formação de uma comunidade. Kozinets (2014) argumenta que para a existência da comunidade são necessários um senso de permanência, interação social sustentada e um senso de familiaridade entre os membros. Ao repercutirmos esse argumento na seleção dos comentários nos permitimos categorizar estes elementos em duas categorias: saudosista e de pertencimento e/ou identidade. Eliminamos da observação, por uma questão de quantidade e também de função, os comentários apenas com emojis e os referentes a atraso ou cantores.
Logo no aspecto deste evento cultural mediado pela plataforma Youtube ao observamos que a comunidade formada atinge um comportamento e dinamismo através dessa manifestação cultural, representando presente e passado, permitindo transparecer as heranças de manifestações passadas dentro do universo recriado na plataforma.
Em nossa observação selecionamos inicialmente os seguintes comentários do perfil/ usuária @AndreiaAzevedo:
Os comentários como da usuária Andreia Azevedo demonstram a queda das barreiras geográficas nos comentários 1 e 3, (a mesma se encontra em outro continente). Esta usuária também entra em uma interação com outro perfil (@Carlos Henrique) quando o mesmo interage em seu comentário; @AndreiaAzevedo como está Portugal?. A relevância dos espaços físicos é bem abrangente ao detectarmos que vários usuários partilham os lugares de origem, onde se encontram fisicamente, tais como, @FabiolaSouto “No Rio de Janeiro e morrendo de saudades !”/ @MartaSouza “Niterói/RJ”/ @AndreiaDantas “sou de Campina Grande”.
É possível observar nas interações no chat da live que a base conversacional é diferente no espaço virtual. Se no mundo físico necessitamos de uma interação face a face, o mundo virtual possuem regras síncronas ou assíncronas de conversação. Logo ações como curtir, marcar perfil, o uso de emojis ou compartilhamentos da mensagem se enquadram, dentro do contexto virtual, como interações, correspondendo a um fluxo de comunicação.
Primo (2016) demanda que a interação em rede exige que os participantes se transformam em “cada interação que se engajam”. Isso é o processo interativo em rede, no caso do que foi observada (marcação do perfil) é considerado uma interação, onde não necessariamente se faz perguntas, mas declarações em resposta às primeiras proposições, neste caso o comentário inicial do perfil de Andreia Azevedo sobre Portugal.
Um segundo ponto são os comentários que se enquadram no saudosismo e pertencimentos identitários; @Simone Albuquerque escreve o seguinte “Uma aula de história sobre nossos festejos juninos e nossa tradição”. Um outro perfil de @ Railson de Sousa Lucena Sousa Lucena onde o mesmo aborda “Saudades de trabalhar o ano todo na minha barraca, trabalho aliado ao divertimento”. Esses dois comentários ilustram o papel da festa, ainda que nesse espaço enigmático do ciberespaço, possui uma memória coletiva, ou nas palavras de Marques de Melo (2008) “uma confluência entre passado e presente” reconstituindo a trajetória da festividade, permanências e mutações.
O resultado da análise é ressaltado quando perfis relacionados à cultura, como @Cordéis Pedagógicos Com o poeta #JLimaCordelista, interage e associa costumes, comidas, discursos e manifestações culturais inerentes aos festejos do espaço real:
O usuário @Cordéis Pedagógicos Com o poeta #JLimaCordelista também possui um canal no Youtube onde o mesmo desenvolve vídeos com conteúdos sobre Literatura de Cordel e alguns sobre análise de racismo na Literatura. Nos comentários selecionados acima reconhecemos traços da cultura nordestina durante os festejos juninos como as comidas (pamonha/canjica), forró, quadrilhas, balancê, “é São João”.
Marques de Melo (2008) compreende que a web é um território fértil que garante a sobrevivência de vários gêneros ou formatos de expressão popular, permite “multiplicar seus interlocutores, bem como ensejar o intercâmbio entre grupos e pessoas que possuem identidades comuns, mesmo distanciadas pela geografia”. São as confluências e atravessamentos para uma resistência dos ativistas folkmidiáticos, os atores sociais e a manifestação popular em sua natureza dinâmica. É a reorganização das ações humanas e sociais dentro de um espaço virtual que invade cada vez mais as estruturas simbólicas das vivências em seus espaços físicos.
Deste modo a internet, dentro do recorte elaborado nesta observação, permitiu processos comunicacionais de sociabilidades, derrubando barreiras geográficas, sociais e institucionais. Os conteúdos produzidos e reproduzidos dentro das plataformas permitiu uma aproximação comunitária em torno daquilo que é comum aos indivíduos interagentes no contexto pesquisado. A linguagem, imagens ou simbolismos que estão envoltos das festividades juninas transferidos para dentro do cenário virtual
Conclusões
Os aspectos da modernidade são uma realidade em nossa sociedade. Somos cercados por uma infinidade de aplicativos, vigilância de dados, rastros algorítmicos e fluxos comunicacionais que se desfazem e se refazem em velocidade ímpar, principalmente nos espaços virtuais proporcionados por plataformas, aplicativos, redes sociais digitais e todo o contexto da Web 3.0.
No cenário das festas populares do Nordeste é crescente a inclusão de grupos juninos, artistas, profissionais autônomos que trabalham com essas manifestações, inseridos nas múltiplas plataformas. São perfis, comunidades, sites, e canais dedicados a manter e vivenciar ano após ano os aspectos festivos das celebrações juninas, sejam religiosas, performáticas ou econômicas.
No ano de 2020 uma realidade diferente nos foi apresentada. O processo de isolamento social produziu o fenômeno de demanda por ações culturais, à necessidade de produzir efeitos catárticos sobre a pandemia que se estabelecia e suas consequências, principalmente a quebra das vivências sociais.
As redes sociotécnicas ou plataformas digitais foram essenciais para reproduzirmos um cenário de aproximação e interação mesmo que demograficamente distantes. A projeção das festas juninas para o espaço virtual demonstrou que é possível nos aproximarmos por identificação de valores, costumes, e hábitos mesmo em situações espaço/tempo diferenciados, compartilhando do sendo de comunidades em rede.
A Tecnocultura descrita por Sodré (1996) se desenha mais firmemente nesse novo momento da Web 3.0. É cada vez maior os processos de reconhecimento entre os indivíduos que partilham do senso de comunidade dentro das formações sociais online mediadas por dispositivos tecnológicos.
No que compete às festividades juninas, percebemos que a pandemia demonstrou que é possível utilizar as redes sociotécnicas para além da manutenção da festa, como espaço de projeção e visibilidade, visto que, esse lugar online permite a quebra das barreiras geográficas. De outro modo, é importante ficarmos atentos a como esses filtros tecnológicos irão impactar na cultura popular, em seus padrões e produtores culturais.
Na magia que desponta dos usos e abrangência da internet e seus produtos podemos ser otimistas e pensarmos uma sociedade capaz de conviver dialeticamente com essa renovação criativa propiciada pela web e seus múltiplos fluxos comunicacionais? Esse lugar também fixa, cria e perpetua nossas condições de identidade, nossos pertencimentos e memórias.
Presenciamos agora a emergência de novas funções e crescimento continuado no tempo online, no desenvolvimento das comunidades em rede, seus interesses e cultura. O ato de festejar ainda permanece vivo em nossa realidade.
Referências
Benjamin, Roberto. 2000. Folkcomunicação no contexto de massa. Ed. Universitária UFPB: João Pessoa.
Latour, Bruno. 1994. Jamais fomos modernos: ensaios de antropologia simétrica. Ed. 34: Rio de Janeiro.
Lévy, Pierre. 1999. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Ed. 34: São Paulo.
Malini, Fábio. 2021. A dualidade discursiva nas redes sociais. In: Análise Do Discurso Digital. Coordenação de Maria Eduarda Giering e Roberto Leiser Baronas. 25 jun. 2021. 1 vídeo (2h07min19s). Curso on-line. [s.l]: Associação Brasileira de Linguística.
Marques De Melo, José. 2008. Mídia e cultura popular: História, Taxionomia e Metodologia da Folkcomunicação. Ed. Paulus: São Paulo.
Primo, Alex. 2016. Nó 1: Interações mediadas e remediadas: controvérsias entre as utopias da cibercultura midiática. In: Interações Em Rede. Alex Primo. Ed. Sulina: Porto Alegre.
Kozinets, Robert V. 2014. Netnografia: realizando etnografia online. Tradução Daniel Bueno. Ed. Penso: Porto Alegre.
Sodré, Muniz. 1996. Reinventando a cultura: a comunicação e seus produtos. Ed. Vozes: Petrópolis.