Semiótica da Memória: estesis, enacção, afectividade, materialidad do sentido

Resumo

O presente trabalho propõe uma reflexão sobre tendências teórico-metodológicas em Semiótica, que permita elaborar um marco adequado para a abordagem de um corpus definido: os relatos de familiares de desaparecidos na última ditadura cívico-militar em Argentina (1976-1983) a quem têm-se-lhes restituído os restos ósseos encontrados em fosas comuns. Trata-se de casos judicializados, aos que a Equipa Argentina de Antropologia Forense (EAAF) lhes aplicou um método biomolecular de identificação. A hipótese principal é que as percepções, experiências e afectividades despregadas em tais discursos podem analizar desde um ponto de vista integrador da acção e a paixão, a partir da estesis, como estudo dos efeitos de presença no campo discursivo (conceito proveniente da fenomenología), e a enacção, como acção na que sujeito e mundo emergem conjuntamente (conceito que debemos às ciencias cognitivas). As conclusões parciais e provisórias às que arribamos permitem postular que a acção, a materialidad, o corpo, os afectos em Semiótica são articulações necessárias às matrizes significantes que lhes outorgam sentido, e se erigen em elementos fundamentais dos procesos cognitivos. Em relação com o corpus analisado, a integração teórico-metodológica proposta ao início do artigo permite, por um lado, reinsertar na corrente de semiosis social que emergem desse fenómeno social-político do que provisionalmente podemos chamar aparecidos. E, por outro, contribui a desenvolver uma Semiótica que estude ese fenómeno como parte de um campo relacionado com os estudos de memoria.